domingo, 18 de março de 2012

Resenha sobre o livro “Educação Infantil e registro de práticas”. Camila.


            Neste livro a autora Amanda Cristina Teagno Lopes considera a educação como uma prática contida em um contexto real, contraditório. A educação é entendida como transformadora causadora de mudança e de criação, entendida também como aprendizagem, desenvolvimento, acesso à cultura, ao saber acumulado e à humanidade. A criança é entendida como produtora de conhecimento é ativa no processo de aprendizagem. Quanto ao registro a mesma diz que serve como documentação, como pensamento, como valorização profissional. O ato de escrever sobre a prática requer relembrar, narrar, relatar, analisar, pensar e pesquisar. Pauta-se na hipótese de que o registro serve como instrumento que favorece à reflexão e a construção de uma postura investigativa por parte do professor, dando contribuição ao processo de formação.
            Cita Cecília Warschauer (1993, 2001) dizendo que a mesma acredita que o registro favorece a construção da memória e da história, percebe-o como possibilidade de formação, de reflexão tentando compreender e buscar o sentido da ação cotidiana em sala de aula. As autoras portuguesas Julia Oliveira-Formosinho e Ana Azevedo (2002) dizem que o registro ajuda na compreensão da realidade e com isso sua transformação, dizem ainda que o ato de registrar não é neutro. Quanto a Madalena Freire (1996) situa o registro como instrumento metodológico ao lado do planejamento, da observação e da avaliação, complementa dizendo que auxilia a reflexão sobre a realidade e a construção da memória e da história. Já Paulo Freire (1993) diz que o professor é um aprendiz que tem no seu ensinar um momento rico de seu aprender, complementa dizendo que para que o educador seja autor de sua prática ele precisa ser objeto de estudo de observação e de reflexão, registrar é portanto ato de estudar. Assim registrar a prática não é apenas escrever sobre ela, é refletir, planejar e avaliar, registro como meio e fim, processo e produto. Registrar é ler, produzir sentido, é importante a percepção do educador como produtor de escrita, de linguagem. No contexto da criança é preciso considerar o desenho como forma de registro ao lado da escrita, como forma de pensamento, meio de expressão, pois o mesmo revela uma forma particular de ver o mundo.
            Na Educação Infantil os registros aparecem com as especificidades das crianças, do educador e da instituição, o Referencial Curricular para a Educação Infantil (Brasil/MEC, 1998) mostra a observação e o registro como instrumentos essenciais ao processo de avaliação da aprendizagem e do desenvolvimento. Nos dias atuais fica claro o esforço para recuperar as especificidades da Educação Infantil, para que seja garantido às crianças seu pleno desenvolvimento e o respeito às suas características e necessidades, o que implica educação e cuidado. Antigamente não se pensava no professor reflexivo, na complexidade da prática, portanto, não havia sentido a produção de registros com essa finalidade. Na Escola Nova, passa a ter mais atenção a formação de professores, o currículo é ampliado e a duração é prolongada, passando a exigir “cultura enciclopédica” dos ingressantes, percebe-se a necessidade de investimento na formação de professores como alicerce da mudança, à escola é atribuída a missão de construir a nação parecida com a européia, regenerar o povo brasileiro, neste período o registro era visto como instrumento de disseminação de novo paradigma, elemento de mudança e de formação de pensamento. Pode-se avaliar a relação escola-memória de outra perspectiva: a escola como produtora de memórias, sem memória perde-se o sentido da existência. Registrar a própria prática é atribuir valor a experiência docente, é dar significado, resgatar a autoestima do educador, é produzir memória, construir história, é ser sujeito.
            Na prática pedagógica da autora os registros eram essênciais, por meio deles ela previa uma ação, planejava replanejava, avaliava, construindo o processo, a ação. Contribuíram para a formação em serviço, além de registrar a história do grupo. O portfólio era usado como sistematização de um processo, de uma história, de um trabalho, era o espaço de divulgação, o produto de uma ação.
            Assim, ser professor na Educação Infantil segundo a autora é educar e cuidar, observar as crianças, construir práticas, procedimentos, atividades, criar e recriar, e é também registrar, produzir marcas, construir história. A intenção ao registrar é produzir conhecimento útil ao coletivo, às escolas, aos professores, as universidades, um saber que se mostre transformador do sujeito e da práxis. O registro precisa ser experimentado, vivido. Neste sentido é necessário então que o registro seja incorporado ao projeto político pedagógico em ação, à cultura escolar, ao sistema de forma mais ampla.

            Ao meu ver a autora está correta em suas definições de registro. Concordo com o que ela discorreu, realmente quando acreditamos que as crianças são capazes, conseguimos organizar situações que privilegiem a expressão de seu pensamento, o registro de suas descobertas, a produção de suas marcas. Acredito também como a autora que a prática do registro é inerente ao trabalho pedagógico, e que é muito importante garantir no horário de trabalho dos professores, momentos para produção e reflexão coletiva sobre as práticas. Assim, só teremos professores reflexivos se tivermos escolas reflexivas, ai destaca-se o papel do coordenador pedagógico e da direção da escola que devem articular o trabalho coletivo e o projeto político pedagógico como incentivadores da prática de registro, criando espaços destinados a produção e a divulgação e também a reflexão coletivas. Não haverá mudança na educação se somente o professor mudar, é necessário que o meio em que ele trabalha mude juntamente para que a transformação ocorra verdadeiramente.


Camila Consani Costa

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