Neste livro a autora Amanda Cristina
Teagno Lopes considera a educação como uma prática contida em um contexto real,
contraditório. A educação é entendida como transformadora causadora de mudança
e de criação, entendida também como aprendizagem, desenvolvimento, acesso à
cultura, ao saber acumulado e à humanidade. A criança é entendida como
produtora de conhecimento é ativa no processo de aprendizagem. Quanto ao
registro a mesma diz que serve como documentação, como pensamento, como
valorização profissional. O ato de escrever sobre a prática requer relembrar,
narrar, relatar, analisar, pensar e pesquisar. Pauta-se na hipótese de que o
registro serve como instrumento que favorece à reflexão e a construção de uma
postura investigativa por parte do professor, dando contribuição ao processo de
formação.
Cita Cecília Warschauer (1993, 2001)
dizendo que a mesma acredita que o registro favorece a construção da memória e
da história, percebe-o como possibilidade de formação, de reflexão tentando
compreender e buscar o sentido da ação cotidiana em sala de aula. As autoras
portuguesas Julia Oliveira-Formosinho e Ana Azevedo (2002) dizem que o registro
ajuda na compreensão da realidade e com isso sua transformação, dizem ainda que
o ato de registrar não é neutro. Quanto a Madalena Freire (1996) situa o
registro como instrumento metodológico ao lado do planejamento, da observação e
da avaliação, complementa dizendo que auxilia a reflexão sobre a realidade e a
construção da memória e da história. Já Paulo Freire (1993) diz que o professor
é um aprendiz que tem no seu ensinar um momento rico de seu aprender,
complementa dizendo que para que o educador seja autor de sua prática ele
precisa ser objeto de estudo de observação e de reflexão, registrar é portanto
ato de estudar. Assim registrar a prática não é apenas escrever sobre ela, é
refletir, planejar e avaliar, registro como meio e fim, processo e produto.
Registrar é ler, produzir sentido, é importante a percepção do educador como
produtor de escrita, de linguagem. No contexto da criança é preciso considerar
o desenho como forma de registro ao lado da escrita, como forma de pensamento,
meio de expressão, pois o mesmo revela uma forma particular de ver o mundo.
Na Educação Infantil os registros
aparecem com as especificidades das crianças, do educador e da instituição, o
Referencial Curricular para a Educação Infantil (Brasil/MEC, 1998) mostra a
observação e o registro como instrumentos essenciais ao processo de avaliação
da aprendizagem e do desenvolvimento. Nos dias atuais fica claro o esforço para
recuperar as especificidades da Educação Infantil, para que seja garantido às
crianças seu pleno desenvolvimento e o respeito às suas características e
necessidades, o que implica educação e cuidado. Antigamente não se pensava no
professor reflexivo, na complexidade da prática, portanto, não havia sentido a
produção de registros com essa finalidade. Na Escola Nova, passa a ter mais
atenção a formação de professores, o currículo é ampliado e a duração é
prolongada, passando a exigir “cultura enciclopédica” dos ingressantes,
percebe-se a necessidade de investimento na formação de professores como
alicerce da mudança, à escola é atribuída a missão de construir a nação
parecida com a européia, regenerar o povo brasileiro, neste período o registro
era visto como instrumento de disseminação de novo paradigma, elemento de
mudança e de formação de pensamento. Pode-se avaliar a relação escola-memória
de outra perspectiva: a escola como produtora de memórias, sem memória perde-se
o sentido da existência. Registrar a própria prática é atribuir valor a
experiência docente, é dar significado, resgatar a autoestima do educador, é
produzir memória, construir história, é ser sujeito.
Na prática pedagógica da autora os
registros eram essênciais, por meio deles ela previa uma ação, planejava
replanejava, avaliava, construindo o processo, a ação. Contribuíram para a
formação em serviço, além de registrar a história do grupo. O portfólio era
usado como sistematização de um processo, de uma história, de um trabalho, era
o espaço de divulgação, o produto de uma ação.
Assim, ser professor na Educação
Infantil segundo a autora é educar e cuidar, observar as crianças, construir práticas,
procedimentos, atividades, criar e recriar, e é também registrar, produzir
marcas, construir história. A intenção ao registrar é produzir conhecimento
útil ao coletivo, às escolas, aos professores, as universidades, um saber que
se mostre transformador do sujeito e da práxis. O registro precisa ser
experimentado, vivido. Neste sentido é necessário então que o registro seja
incorporado ao projeto político pedagógico em ação, à cultura escolar, ao
sistema de forma mais ampla.
Ao meu ver a autora está correta em
suas definições de registro. Concordo com o que ela discorreu, realmente quando
acreditamos que as crianças são capazes, conseguimos organizar situações que
privilegiem a expressão de seu pensamento, o registro de suas descobertas, a
produção de suas marcas. Acredito também como a autora que a prática do
registro é inerente ao trabalho pedagógico, e que é muito importante garantir
no horário de trabalho dos professores, momentos para produção e reflexão
coletiva sobre as práticas. Assim, só teremos professores reflexivos se
tivermos escolas reflexivas, ai destaca-se o papel do coordenador pedagógico e
da direção da escola que devem articular o trabalho coletivo e o projeto
político pedagógico como incentivadores da prática de registro, criando espaços
destinados a produção e a divulgação e também a reflexão coletivas. Não haverá
mudança na educação se somente o professor mudar, é necessário que o meio em
que ele trabalha mude juntamente para que a transformação ocorra
verdadeiramente.
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